terça-feira, 11 de setembro de 2007

Anotações sobre uma manhã de domingo


A Renata reapareceu, andou e anda ocupada na recuperação do primeiro semestre, que fora inviabilizado graças à prepotência dos que detêm o poder no governo paulista. De maneira truculenta o governo criara, tendo o Pinote como testa de ferro, um órgão pra fiscalizar a reitorias das universidades pública, ato nitidamente de ditador: rouba a independência da universidade.Afronta-se a dignidade das três universidades, onde, acredito povoa o ideal de liberdade, e etc.
Quase colou, se não fosse o grupo de estudantes que partiu contra tal medida e conseguiu formar uma força, incluindo a participação de intergrupos da Usp. A liderança chegou a ocupar, por meses, a reitoria e, somente decorrido bastante tempo, o governo tomou pé da situação, que lhe era inoportuna e minaria os interesse de um pré-candidato à presidência. O Pinote, dado a sua origem universitária, (fora professor e reitor e secretario da educação), ficou definitivamente queimado em sua reputação, saiu visivelmente abalado; e o Zé Serra começou a pensar na estratégia de retirada. A reitora não perdeu o cargo. E os estudantes e professores foram obrigados a recuperar as aulas perdidas em tempo inadequado, os seus respectivos trabalhos.
Mesmo num tempo de total indiferença à ação do governo e numa sociedade entregue a eles, manieta, impotente, o que marca este episódio é o grau de soberba do personagem José Serra. Age como só ele sabe tudo, que é infalível. Imagina como se comportaria se chegasse a Brasília, a ilha da indiferença às questões da pátria, e povoada de vampiros que sugam o povo. E onde todos puxam o saco do mandatário. É o que fazem em Brasília.
A Renata esteve na praça da igreja, com paciência buscou fazer a agenda, com os grupos sociais mais próximos do projeto. Qualquer atividade na periferia exige mão de obra. Que se insista. A manhã bate clara, sol de muita luminosidade tropical mas agradável. De frente a igreja, grupo de adolescente, ostenta em si entusiasmo.
A Renata se dirige a dois jovens, um de pasta e bem vestido, e uma menina com roupa de torcida de cristo, camiseta colada a corpo e com dizeres. São amáveis e para nossa surpresa a menina já conhece o projeto.
-Na aula de Filosofia, o professor Fabiano falou da praça, que lá vai ter isso. - Diz ela.
-Ah, o Fabiano - responde a Renata, com olhos cintilantes, e movimentando a cabeça em 45 graus.
-Vou levar o convite para o encontro com o grupo de jovens e o da praça. -prontifica-se o Ivan, anotando endereços e telefones.
Juntos vão à praça, que está quase vazia, com o feriadão. Percorrem-na falando de literatura, diante da situação das plantas sofridas pela falta d'água. Falam do "Quinze" e mais demorado, da leitura sofrida, circunstancial de um nordestino recém-chegado a São Paulo, deitado no seu catre, lendo "Seara Vermelha", do Amado. Encontram o seo Benedito, motorista que tem a praça como local de trabalho. Fazem o convite pra o grupo dele e como macunaína se defende:
-Mas a praça não vai nos tirar daqui?
-Vamos ver, mas é a prefeitura que pede a área para a praça.
-Seo Benedito, a gente quer convidar o senhor e todo o grupo, com suas mulheres, para mostrar-lhes o projeto.
-A gente topa.
Com cuidado para evitar toda sorte de dificuldade com os grupos que hoje utilizam a praça como local de trabalho, é mister que se trabalhe indicando que o pedido da área seja feito pela regional, que se diga com todas as letras que é a prefeitura que o pede.
É fácil pra o operário brasileiro torna-se míope em enxergar a realidade, por não ter opções de sobrevivência, está e esteve sempre a mercê da ameaça velada do desemprego, de falta-lhe qualquer renda.
A manhã se estende, e a Renata tem a última conversa com a professoraa Beatriz, no conforto do clube. Iniciando-a, a professora diz que "por ordem da Secretaria da Educação que cobra ação da escola, no sentido de fazer a escola pensar sobre o dia do "Meio ambiente", então é preciso que se vá plantar árvores na Escola, nos prédios dos alunos e na praça". E diz mais que para tanto, "será formada uma equipe de trabalho: um professor de Português, uma professora de História e um operário, e que assim possam deslanchar o trabalho". Assim está deflagrado o projeto "Plante uma árvore para chamar os passarinhos", Que há quase dois meses, vinha sendo desenvolvido de maneira discreta, criando o capital de crédito por parte da comunidade. A Mônica linda tocou a pesquisa de campo, na busca do aluno que mora perto da praça, dando condição para que a escola o contate. Criando uma relação mais próxima da Escola e dos moradores, que ganharão duas frutíferas e faça-se, aí em condição apropriada, (porque comunidade não estará indiferente na conversa), a divulgação também do projeto da praça. E ela trouxe sua força e graça espanhola ao labutar na feitura de canteiros.
Existe na cabeça o desenho do anteposto das frutíferas pronto. Sem grandes dúvidas. Claro. Condizente com a harmonia da natureza, tomou-se o cuidado de preservar o conjunto de vegetação ali existente. Permanece o capim, o mamoeiro, a extensiva cerca de Coroa de Cristo, o Roman. De sorte que a capinação se dá somente e somente no local de canteiro e no caminho dele.
O desenho (invisível) aponta a compoteira à direita de quem entra e junto ao muro.
A água será distribuída por uma estrutura a ser feita pela professora do Laboratório e acompanha o desenho dos canteiros, claro.
Por fim, Eduardo, Marcos Eichember, Mônica, Rafael, Fabiano levem, se possível, na reunião de sexta, anotações ou desenhos para a experiência do filme.
Não resisto diante do espectro da ARTE e do desafio de ir a Ela por parte dos amigos queridos, lembrando-lhes as palavras de Camões: "Que não me falte engenho e a arte"

Aldo Goiti

Um comentário:

Berger disse...

E apraça, Aldo? Saiu? Ficou pronta? Que aconteceu?