domingo, 19 de agosto de 2007

Das Razões e das Necessidades

É preciso um cuidado especial ao fazer o projeto de uma praça, e o cuidado é ainda maior quando se trata de uma praça localizada em uma região distante do centro da cidade de São Paulo, na periferia da zona leste, onde há uma evidente dificuldade de acesso à infra-estrutura, a cultura e ao lazer. Naturalmente, por estas e outras razões, ela não desperta interesse e, portanto, falta-lhe recurso de toda ordem.
O outro lado da questão, é que o povo, pouco interfere fora do limite dos prédios. Passivo e indiferente à poli, pouco tem feito na defesa e construção de áreas verdes, ou de praças. Resulta daí que, raramente, o espaço de praça esteja cuidado. Como determinado pelo castigo de tragédia grega, torna-se inaproveitável. Exílio.
A região da praça Celso Furtado possui, como qualquer outra Cohab, uma gênese pouco comum: foi povoada repentinamente. Construiu-se o bairro e fez-se a ocupação. Numa manhã, uma população de uma cidade (de dezenas de milhares de brasileiros vindos da Bahia, de Minas, do Paraná etc.) forma de repente, um bairro dormitório. Não houve o tempo necessário para formar a história dos indivíduos, dos grupos, na sua participação nas lutas de reivindicação, ou na edificação de projetos de infra-estrutura como escolas de qualidade, hospitais, espaços para o lazer e a cultura. Isso aumentaria a proximidade entre eles, de modo a terem condições de praticar a vivência de vizinhança, enfim, criar laços de amizade no âmbito dos moradores, valendo-se do fato de necessidades comuns.
A consistência das relações de convivência, de relacionamento das pessoas no seu quotidiano não pode assim, ainda hoje, ser criada.
As pessoas estão fechadas em si mesmas, em todas as faixas etárias. As crianças não brincam na rua. Os idosos, como já se observou em inúmeras situações: “É o grupo social menos favorecido. Vendo-os na Virginia Ferni parecem uma legião de abandonados.” As mães e avós não têm um clube, no qual, com certeza os assuntos como produção de mudas, enxerto estariam em conversa. O Teatro ou o cinema não se pontificou como lazer ou cultura para os adolescentes; embora os atores do grupo de teatro Alma trabalhem com toda energia e “se entreguem totalmente a Arte”, na realização de peça nos finais de semana.
Por este aspecto aqui exposto, a praça “Celso Furtado” não poderia ser somente bela ou simplesmente cuidada. Destina-se a destoar na paisagem social, algo como uma espécie de oásis, onde seria oferecido ao morador um local a céu aberto, espaços para a convivência humana, tão necessária a cada indivíduo, cheio de flores, ao som do canto da cotovia contradizendo com o espaço opressor do apartamento.
Pode-se vê-la como local de encontro de pessoas, de grupos que, neste espaço, terão condições para conversar e praticar novas atividades. E a praça tem implícita, não patente, o objetivo de quebrar o estágio do relacionamento social em que vive o morador, há décadas, trazendo-lhe o humor, a alegria.
Em tais condições, o povo pode, finalmente, se conhecer."

Aldo e Mônica

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